Learning

7 out

Muito tempo longe dessa página, andei aprendendo por aí. Aprendi que endorfina não é lenda urbana e é a melhor ajuda que alguém pode ter em um mês de sol no setor das crises pessoais. Que Netflix é a invenção do século. Aprendi a me viciar em How I Met Your Mother. A controlar a ansiedade – muito embora de vez em quando ela ainda me ganhe por nocaute. Aprendi que a minha mania de racionalidade me torna um tanto controladora, mas também que não adianta querer estar sempre no controle da situação, a gente simplesmente não está. Com isso, aprendi a relaxar. Aprendi que gastar em terapia não pode ser chamado de “gasto”. Mas não aprendi a parar de gastar at all. Aprendi que a gente, ao fim e ao cabo, está sozinho e não pode (deve) depender de ninguém. Emocionalmente, eu digo. E na prática também. Sobre isso, aprendi uma frase que eu achei fantástica: “Respirar a vida como se não houvesse ninguém. Até que haja“. É Daniel Galera, que eu aprendi a gostar e por isso já devorei três livros seguidos. AprendI que café é bom e vicia (e tenho planos de desaprender a gostar tanto em breve). Aprendi a negar trabalho quando não dá. E a pedir trabalho quando eu quero. Mas falta aprender muito ainda no trabalho. Não aprendi a parar de faltar aula e a remarcar compromissos e não sei quando vou aprender (mas preciso!). Que época, que ano. Em homenagem a ele, vou ver se reaprendo a aparecer por aqui.   

VERGONHA

14 maio

Sou envergonhada. Tímida? Não, mas profundamente envergonhada.

Morro de vergonha de gente espalhafatosa demais.

De quem se diz socialista, mas só usa Ralph Lauren.

Daqueles para quem o ponto alto da noite é o momento em que o garçom chega com seu champagne de milhares cuspindo fogo.

Tenho vergonha de gente rude, de mentirosos doentios e de fundamentalistas de qualquer espécie.

Vergonha daqueles que apedrejam outros cujas características podem ser suas e muito mais dos que achincalham alguns cujos atos já muito fez.

Passo vergonha toda vez que observo alguém que não sabe escutar, alguém que não para de falar e alguém que finge não ouvir.

Super vergonha de vegetarianos que comem frango, saudáveis que tomam bomba e sedentários que desdenham de exercícios.

Acho vergonhosa a política nacional, em sua grande maioria, e mais ainda a opinião geral sobre ela quando fala, fala, e nada faz. Tenho vergonha das minhas atitudes em relação a isso também.

Vergonha de quem desdenha de Big Brother, axé e livros do Dan Brown, sem nunca ter experimentado, por se achar culto demais. Ainda mais vergonha de quem desdenha e experimenta, continuamente, escondido.

Admito me envergonhar ao não saber, mas acho ainda mais vergonhoso fingir que sabe e só falar merda.

Ter vergonha do corpo é normal, mas não devia. Ter vergonha da mente é raro, mas mais gente podia.

Vergonha de quem finge ser o que não é, mas uma vergonha profunda de quem sequer busca descobrir seu ser.

Tenho vergonha de gostar de carne gorda, de cheetos requeijão e de, com quase 28 anos, ainda cantar alto se eu escuto Sandy e Junior e Lua de Cristal.

Vergonha de quem tem muito potencial e não percebe e mais ainda dos medíocres que acreditam ser reis.

Vergonha da Gretchen, da Monique Evans e de grande parte dos pastores evangélicos. Do Marcos Feliciano? Aí não é vergonha, é desprezo.

Ás vezes tenho vergonha de sentir e admitir isso me gera uma vergonha danada.

Morro de vergonha de ver gente morando na rua e gastar os tubos em uma roupa – e sigo permanentemente me envergonhando (e endividando).

Vergonha de gente sem-vergonha, de adolescente que acha que é adulto, de senhora que se acha adolescente, de tiozão que dá em cima de pirralha, de carinhas que acham que o carro define a personalidade, de colegas que se acham superiores por serem chamados de “Doutor”, de doutores que esquecem a medicina e só lembram da conta bancária. Dos caras que adulteravam o leite para ganhar dinheiro, deixando um bando de gente ingerir formol. Do guri que matava taxistas por diversão. De quem critica sem ver, fala por falar e se recusa a admitir.

Vergonha das minhas piores características, dos meus hábitos mais nefastos e dos meus pensamentos mais infames. De julgar aqueles pelos quais eu sinto vergonha. Estarão também com vergonha de mim?

Coisas de Saturno…

12 maio

Faz mais ou menos uns três meses, senão mais, que eu incessantemente faço limpas no meu quarto. Já perdi as contas de quanta coisa joguei fora, de quanta roupa dei, da quantidade de objetos que foram sumariamente demitidos do meu canto, sem qualquer peso na consciência. É mais forte do que eu, quando me dou conta, já estou no meio de mais uma faxina, com o sacolão de coisas “out” lotado e o espírito um tanto mais leve.

Faz uns meses mais do que isto que eu venho constantemente descobrindo a Luiza. Eu, que sempre me achei “a” questionadora, tão segura de mim, senhora “auto-análise”, fui pega no contrapé de mim mesma deitada em um divã, numa tarde portoalegrense qualquer, e desde então vem se abrindo um mundo interior que sempre esteve ali, mas que eu inconscientemente ignorava, sobre o qual eu não fazia a mais vaga ideia e que impressionantemente explica tanta coisa. É das coisas mais interessantes que podem acontecer, porque é dolorido, mas é libertador.

Lembro que lá pelos meus vinte quatro anos eu dizia que tinha certeza que a minha maior crise de idade seria com vinte e sete anos. Não sei exatamente de onde tirei a idade, mas dizia com tamanha propriedade que acabei acreditando no que estava falando. Pois cá estou, os vinte e sete na berlinda, os vinte e oito no horizonte (bem) próximo e não vejo crise. Noto, sim, uma mudança clara, um amadurecimento quase palpável – mas dificilmente descritível.

E é bom.

Já devo ter falado por aqui do famoso “Retorno de Saturno”, mas transcrevo a explicação do site Personare. Qualquer semelhança não é mera coincidência:

 

Para começo de conversa, cabe aqui explicar tecnicamente o que é o retorno de Saturno: trata-se do tempo necessário para que o planeta Saturno realize uma volta completa em torno do Sol. Enquanto nosso planeta, a Terra, leva em torno de 365 dias para realizar esta volta, Saturno leva aproximadamente 29 anos terrestres para fazer o mesmo movimento. Isso significa que se na Terra você tem 29 anos, em Saturno você acabou de completar seu primeiro ano de vida. Se você acha que está ficando velho(a), é tudo uma questão de perspectiva, pois em Saturno você ainda é muito novinho(a).

E no sentido simbólico, o que isso pode representar? Para a Astrologia, Saturno simboliza o limite, justamente por ser o último planeta que pode ser visto a olho nu. Podemos compreender o retorno de Saturno como sendo aquele momento em que tomamos consciência de nossas limitações, daquilo que podemos ou não podemos fazer. “Podemos compreender o retorno de Saturno como sendo aquele momento em que tomamos consciência de nossas limitações, daquilo que podemos ou não podemos fazer. “

Aprendemos a diferença entre o que é viável e o que é “viagem na maionese”. Astrologicamente falando, é quando nos tornamos efetivamente adultos. Antes do retorno de Saturno, a maioria de nós costuma ter a ilusão de tudo poder. Fantasiamos que somos livres de uma forma irreal. Entre a idade de 28 e 30 anos, “a ficha cai”. Descobrimos que existem limites precisos, e o melhor: que isso não é ruim, muito pelo contrário! Nos livramos de muitos supérfluos, mantendo em nossas existências apenas aquilo que tem funcionalidade e permite nosso desenvolvimento. É como se passássemos uma peneira fina, e no final descobrimos que mantínhamos várias coisas, objetos ou relacionamentos que não faziam mais sentido e que apenas ocupavam espaço em nossas vidas.

Para algumas pessoas esta é uma fase dolorosa, pois elas descobrem que não são mais crianças e que algumas sérias responsabilidades precisam ser assumidas. O sofrimento, neste ciclo, ocorre apenas quando a pessoa não foi devidamente orientada ao longo de sua vida, quando lhe faltou estrutura e quando ocorre medo de amadurecer. Numa fase em que é imprescindível identificar o que é verdadeiramente necessário, pode ser muito doloroso descobrir que alguns de nossos mais caros apegos envolvem coisas, pessoas ou ideias que não nos fazem bem.

Para tantas outras pessoas, o retorno de Saturno pode ser uma fase muito feliz, de grandes realizações, um momento em que nos deparamos com resultados práticos para os esforços que desempenhamos antes de completarmos 29 anos de idade. É como se a vida começasse a finalmente “tomar forma”, e muitas das ideias e conceitos que compreendíamos apenas em teoria passam a assumir a conformação de uma realidade efetiva.

Deste modo, é importante compreender que o retorno de Saturno não é, a princípio, uma fase “boa” ou “ruim”, até porque tais valores são estabelecidos por cada pessoa, de acordo com suas próprias e particulares vivências. Também é importante entender que ter um retorno saturnino melhor ou pior não depende apenas de nossa vontade, pois este momento é como o ápice de um processo que se desenvolve desde que nos entendemos como pessoas pensantes. Se lhe faltou estrutura, sobretudo estrutura familiar, isso ficará evidente aos 29 anos de idade e é possível que você vivencie uma crise interior. Entretanto, note que vivenciar esta crise pode ser a forma de resolver as carências que você acumulou ao longo da existência. Se o retorno de Saturno será “bom” ou “ruim”, isso não importa tanto, pois o sentimento associado a este ciclo é apenas a resultante de nossos movimentos passados, e a vida em geral não acaba aos 29 anos. Na verdade, sob uma perspectiva saturnina, é aí que ela realmente começa! Uma nova oportunidade se reconfigura, e seja lá o que você tiver vivido em seu passado, depois do retorno de Saturno um novo mundo se descortina, oferecendo a você a chance de ser mais senhor(a) de sua própria vida. De uma forma bem direta, você descobrirá que o que você viveu até antes dos 30 anos não passou de mero ensaio da vida, e na medida em que você amadurecer perceberá como todos os dramas e dores de antes dos 29 anos lhe parecerão tolos e infantis. Passado o ensaio da vida, eis que o espetáculo começa! Sopre a vela do seu bolo saturnino de aniversário e não se preocupe tanto com o gosto do bolo. O importante é que você lembre: este é o primeiro ano do resto da sua existência. Faça valer!

 

Nostalgie

30 abr

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Ir para o Nelson com a Afinha, em um dia qualquer tipo quinta e rir. Buscar a Mari em casa, ir filosofando no carro até algum barzinho-legalzinho-e-despretensioso filosofar mais um pouco. Passar um dia inteiro no QG com a Paula, curando a ressaca, ao mesmo tempo em que trabalhamos para readquiri-la. Nostalgia, nostalgia, aqui me tens de regresso.

Sou naturalmente e desde sempre nostálgica. Com uns dez anos já suspirava ao me lembrar como era bom quando eu tinha cinco e recebia dois sacões de presentes de natal e não só um, aos quinze pensava em como era bom ter dez e ganhar um saco ao invés de só algumas lembrancinhas e aos vinte já morria de saudades dos meus quinze quando eu ainda ganhava alguma coisa. Isso no aspecto material, que é o que menos pega. Nostalgia emocional é o meu ponto fraco. Saudade de épocas, de viagens, de pessoas, de estados de espírito. O meu apego às minhas fotos, minhas agendas e minhas cartas não é por acaso. E não significa que eu acho que o “hoje” não está bom, mas apenas que o “ontem” foi fantástico,

O curioso é que esse é um sentimento que me deixa feliz. Sensação de vi. Vivi. Aproveitei. Me ajuda também a dar um gigantesco valor às coisas que estão acontecendo no momento presente.

Fernando Sabino dizia que “o diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”. Pois eu agradeço toda vez que bate aquela saudadezinha de um tempo passado, porque vejo que a minha nostalgia ainda é única e puramente das coisas pelas quais eu passei. Porque quando ela passar a ser do que eu poderia ter vivido, aí sim, deverei começar a me preocupar a respeito.

Por enquanto, sigo olhando as minhas fotos, com aquele sorrisinho involuntário e uma umidade discreta nos olhos, feliz por ser feliz

.

O poder (ou não) da imprensa

6 abr

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Nunca concordei com pessoas que conferem todos os problemas do mundo à chamada “imprensa de direita”. O Brasil vai mal? A culpa é da Veja. Pessoas passam fome na África? Influência da Globo. Caiu o muro de Berlim? A RBS mente. Paralelamente, todos os professores de história que eu conheci, ao longo de toda a minha formação escolar, sem nenhuma exceção, eram de esquerda – muitas vezes militantes mesmo, de partidos de extrema esquerda (se é que se aplicam ainda esses conceitos). Nunca ouvi, contudo, ninguém reclamar do fato de, ao aprendermos sobre a história do mundo e do nosso país, justamente nos anos em que estamos formando a nossa personalidade e opinião, recebemos apenas a visão, digamos, “esquerdista”, da coisa. Nem eu reclamo, não me entendam mal, mas tenho a impressão de que aquilo que aprendemos dos sete aos dezoito anos tem maior capacidade de alterar a nossa percepção dos fatos do que o que consumimos depois – que será interpretado e filtrado, com algum discernimento, de acordo com a formação que já possuímos. Sendo assim, se a imprensa dominante protege “o sistema”, quinze anos de formação crítica seria suficiente para desmistificá-la, e ver com algum pé atrás o que ali é dito.

Pois bem, tive que rever um pouco a minha opinião diante dos fatos desta semana em Porto Alegre. Contextualizando para algum eventual leitor de outro estado que tenha por acaso caído nessa página, a Prefeitura de Porto Alegre havia reajustado as passagens de ônibus por aqui de R$ 2,85 para R$ 3,05, o que gerou uma série de manifestações na cidade, em uma demonstração de mobilização da juventude que, em termos políticos, não se via há um bom tempo por estes pagos. Após uma das primeiras manifestações, contudo, que chegou a juntar mais de cinco mil pessoas no centro da cidade, foi possível observar de forma clara a intenção editorial de cada jornal da cidade, bem como a capacidade que eles têm de alterar completamente a nossa visão dos fatos, ainda que tenhamos uma formação intelectual decente.

Assim foram as manchetes:

O SUL
Milhares de pessoas lotam as ruas do centro de Porto Alegre contra aumento da passagem.

CORREIO DO POVO
Ato contra aumento de passagens reúne milhares em Porto Alegre.

METRO
Protesto reúne cinco mil contra aumento.

ZERO HORA
Mobilização contra reajuste da passagem de ônibus termina sem confrontos na Capital.

Ora, enquanto os primeiros jornais – alguns de qualidade absolutamente questionáveis, vale dizer – mostraram a força do protesto, revelando a presença de “milhares” de pessoas, a Zero Hora se limitou a publicar que a manifestação “acabou sem confronto”. Ou seja, não mentiu, mas omitiu a informação de tal forma que acabou dando a impressão de que o movimento não teve sucesso. Quem eventualmente tem a Zero Hora como único veículo de informação poderia, não tivessem evoluído os protestos posteriormente, concluir que nada de relevante aconteceu a este respeito.

Ocorre que os tempos são outros e os veículos de imprensa precisam se ajustar a eles. Não se busca mais informação apenas na imprensa tradicional, pelo contrário: me atrevo a dizer que grande parte das pessoas, da classe D a A (formadores de opinião, portanto) têm nas redes sociais e na internet a sua maior fonte de informação. Muitos nem lêem jornais, passam os olhos pelos sites de notícias ou pelos comentários dos amigos no facebook. Não dá mais para omitir. Não dá mais para distorcer. Faz isso em um dia, no outro está na rede, no seguinte tem de haver retratação. Foi o que aconteceu nesta situação específica, em que a demonstração deste posicionamento editorial disfarçado gerou apenas mais revolta, aumentou o número de protestos e de pessoas neles engajadas, obrigou a Zero Hora a documentar tais fatos e, por fim, culminou no deferimento da liminar determinando o retorno das passagens ao preço antigo.

Para minha satisfação pessoal, o fato que demonstrou o equívoco da minha opinião quanto à capacidade da grande imprensa nos ludibriar, comprovou também o acerto dela quanto a sermos seres pensantes e questionadores. Um salve ao discernimento!

Um Beijo

1 abr

Um Beijo

que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
“ao sucesso”
diria meu censor
“à escuta”
diria meu amor

Mais uma de Ana Cristina Cesar, musa da poesia de 80, para começar bem a semana.

Welcome back

30 mar

Meu último post por aqui foi em setembro de 2012. Sim, doze. Seis meses atrás, portanto. Eu não sei exatamente o que me faz parar de escrever por um tempo, tampouco o que me leva, em certos períodos, a registrar compulsivamente minhas impressões e sentimentos no primeiro pedaço de papel / tela de computador que surge na minha frente. Fato é que, como tudo na vida, meus ímpetos de criação vão e vem, assim como, novamente da mesma forma de todo o resto da minha vida, falta disciplina para manter a regularidade na época de vacas – ou ideias – magras.

De qualquer forma, uma coisa que eu já aprendi sobre mim é que as coisas pelas quais eu tenho um apreço inato nunca são abandonadas para sempre da minha vida: a escrita, a corrida pela cidade, as idas para Mostardas, as amigas da infância. Posso ficar milênios sem fazer essas coisas ou sem ver essas pessoas, mas vai chegar o momento que o coração vai apertar, pedindo por elas, e lá vou eu, de volta ao que me faz bem. Escrever para mim segue a mesma lógica: meses se passam sem eu fazer um registro sequer no papel, até que, do nada, levanto da cama de sopetão e saio digitando escalofabeticamente, como se a minha existência dependesse de despejar tudo que eu penso no papel, como se o Ctrl/Alt fosse a única cura possível para uma repentina crise de abstinência linguística.

Esse último período sabático da minha existência blogueira foi, talvez, o de maior mudança interna que eu já experimentei na vida. Talvez por isso a ausência virtual. Já mencionei por aqui uma vez que no meio do turbilhão fica muito difícil para mim registrar o que se passa. As impressões ficam distorcidas, fogem da realidade e eu me preocupo tanto em analisar e digerir mentalmente o que está se passando que acabo paralisada na hora de registrar tais impressões em forma de texto. Só mais tarde, quando a maré baixa e as areias se assentam, é que aquilo que eu tanto registrei/analisei/observei apenas mentalmente começa a criar forma de texto e aquela coceirinha criativa volta a me perseguir.

Pois então, acho que estou de volta. Não sei por quanto tempo, em que teor ou de que forma, mas tenho tanto para dizer, que chego a ter medo de me calar.

Welcome back to my life, purfa.  

 

Um conto de sadas… ops, fadas!

26 set

Pornô para mulheres. “Deu uma guinada no meu casamento”. Livro de sexo. O bafafá era tanto que não resisti: corri para a Cultura, seção de Best Sellers e comprei o meu Cinquenta tons de cinza. E, tu vê, qual não foi a minha surpresa ao perceber que não passava de mais um… conto de fadas!

Pois é, a coleção que já vendeu mais de trinta milhões de cópias pelo mundo e que prometia uma certa libertação para as mulheres, que estaria ali para mostrar que a gente também pode gostar de sexo e consumir produtos a ele relacionados acabou me mostrando apenas que a gente segue querendo a mesma coisa que queria no século retrasado. Só mudou a embalagem do príncipe.

Christian Grey é lindo, milionário, atencioso, dá presentes como um carro, um Macbook pro (sim, a autora faz questão de ressaltar que era o último modelo do computador de Mr. Jobs!), um blackberry e um iPad, não anda em carruagem, mas dirige seu próprio helicóptero ou, às vezes, um Audi R8 porque, ah, ninguém é perfeito, não? Ele também simplesmente aparece quando a mocinha, bêbada, liga e menciona “queria que tu estivesse aqui”, ainda que tenha que atravessar o país para isso. Tem um apartamento maravilhoso, gosta de tudo que é tipo de música, paga roupas caras, academia e personal trainer três vezes por semana para a parceira, além de depilação e qualquer outra coisa que ela quiser fazer esteticamente, já que parte do império dele é uma rede de salões de beleza. E não é só material, ele eleva a auto-estima dela como ninguém, não cansa de dizer o quanto ela é linda, o quanto ele a deseja e o quanto ele está disposto a mudar por causa dela. E no fim, se tudo isso já parecia legal, o cara ainda é um DEUS do sexo. Vai querer? Até o “defeitinho” dele, que faz a protagonista passar o livro inteiro em dúvida se se joga ou não nesse relacionamento (oi?), é uma certa veia sadomasoquista – muito embora nessas “incursões” ele deixe sempre claro que para no momento que ela pedir (o que ela não faz, já que – eu já mencionei? – ele é o deus do sexo).

Fechei o livro suspirando: revolucionário uma ova, o que eu tava lendo era uma Cinderela um pouquinho mais despudorada com um príncipe que trocou as lutas com espadas em campos medievais por tapinhas na bunda no escuro do quarto.

Cenas de sexo extremamente descritivas? Tem. Mas, ao contrário do que se ouve aos quatro ventos, não são essas passagens que fazem a mulherada ler 500 páginas em 3 dias. O que realmente pega ali é o sonho de toda e qualquer mulher de “ser salva”, achar o cara, o príncipe. Parece loucura, mas nesses tempos em que já dominamos o mercado de trabalho e temos independência suficiente para entrar na Arezzo e comprar uns 30 sapatinhos muito mais “in” do que o da Cinderela, ainda queremos o príncipe no cavalo branco. Que baita sacada da autora: escreve mal demais, mas vendeu milhões fazendo todo o mulherio se achar “cool” por achar que está gostando de um livro de sexo, quando na realidade tinham se apegado mesmo à exata mesma ilusão que trazia a Branca de Neve e a Maria do Bairro.

Uma merda, óbvio e até um pouco preconceituoso. Mas estou indo para o terceiro da série e não consigo parar de ler. S.O.S, Mr. Grey, cada você?

 

 

Mudanças

13 set

Faz muito eu percebi que tenho o hábito de externar minhas mudanças internas. Basta perceber uma fagulha diferente, novos pensamentos e uma certa mudança de fase para, sem sentir, começar a alterar coisas ao meu redor. Troco os móveis de lugar, emagreço, engordo, pinto uma parede, começo a usar outras roupas. Muda o conteúdo, pronto: sem querer querendo muda o rótulo. E não podia ser diferente com o Purfa.

Presente na minha vida desde 2007 (5 anos, meu Deus!), minha caixinha de Pandora, abandonado às vezes, mas para onde eu sempre retorno quando ideias começam a pipocar na minha cabeça, ele não poderia passar incólume por essas minhas fases de transição. Talvez ainda mais do que o meu quarto, meu carro, meu corpo e minhas roupas, já que provavelmente ele seja o único lugar onde meus pensamentos de alguma forma se tornam palpáveis.

Por isso aqui está, um novo Purfa. Todos os posts vieram junto, afinal, o fato de haver transição não apaga o que havia, o lugar onde estamos nada mais é do que o resultado dos lugares por onde passamos e nós somos, no fim e ao cabo, a soma do que já fomos. Também convido meus dois co-autores musos e preferidos para seguirem colaborando por aqui quando quiserem apesar de, com muito orgulho, vir observando que eles estão construindo estradas próprias (lindos caminhos, vale dizer). O velho Purfa (www.purfa.blogspot.com) também segue lá, daqui a pouco vira vintage, essas coisas não se apaga.

Então é isso, agora é www.purfa.net. Por fora a mudança é óbvia, por dentro só o tempo poderá dizer.

Leila Diniz

25 ago

Voltando para o Purfa com Leila Diniz: “Sei que me arrisco a ficar sozinha e mesmo a um isolamento maior e absoluto, mas eu pago para ver. Não é só atitude, é necessidade, é ser. Não vou deixar de procurar em mim, saber minhas coisas, meu caminho, minhas verdades e ser como sou. Fiz essa escolha, essa opção na vida e acho que vale as consequências. Não vou parar pra me acomodar às coisa mais ‘bonitinhas e limpas’, às situações protetoras (que são também limitadoras e podadoras), prefiro ficar aí. No meio da briga, no meio da zona, nua. Parando em tudo aquilo que me interessar. Somando, subtraindo, dividindo, multiplicando, tanto faz, tudo isso. Me interessa o saldo. E esse fica dentro de mim. É minha base, meu alimento, meu estofo, é disso que eu vivo. E se vivo assim é porque para mim é essencial esse tipo de busca, de vida. Não posso sair, nem me proteger erradamente, nem me acomodar, não me importa também o fim, ‘aonde que eu vou chegar’. Importa ir. Sei que me arrisco à solidão, se é isso que me perguntam, mas eu sei viver assim”. Leilas, Luizas, Marias. A gente. Que venha a primavera!